quinta-feira, março 04, 2010

O Flagelo do Vestibular

Como eu não tenho muito nada pra postar no blog nesses últimos dias e também por ter entrado em uma "bolha" de livros e seriados (eu provavelmente poderia escrever posts gigantes sobre Lost ou Percy Jackson e os Olimpianos) resolvi colocar aqui uma crônica do Luís Fernando Veríssimo que li há pouco. Porque na hora em que li ela pensei: "Eu tenho que colocar isso em algum lugar!" e bem... acho que blog serve pra essas coisas né?

O Flagelo do Vestibular

Não tenho curso superior. O que eu sei foi a vida que em ensinou, e como eu não prestava muita atenção e faltava muito, aprendi pouco. Sei o essencial, que é amarrar os sapatos, algumas taboadas e como destinguir um bom beaujolais pelo rótulo. E tenho um certo jeito - como comprova este exemplo - para usar frases entre travessões, o que me garante o sustento. No caso de alguma dúvida maior, recorro ao bom senso. Que sempre me responde da mesma maneira:"Olha na enciclopédia pô!"
Este naco da autobiografia é apenas para dizer que nunca tive que passar pelo martírio de um vestibular. É uma experiência que jamais vou ter, como a dor do parto. Mas isso não impede que todos os anos, por essa época, eu sofra com o padecimento de amigos que se submetem à terrível prova, ou até de estranhos que vejo pelos jornais chegando um minuto atrasados, tendo insolações e tonturas, roendo metade do lápis durante o exame e no fim olhando para o infinito com aquele ar de sobrevivente da Marcha da Morte de Batan. Enfim, os flagelados do unificado. Só lhes posso oferecer a minha simpatia. Como ofereci a uma conhecida nossa que este ano esteve no inferno.
- Calma, calma. Você pode parar de roer as unhas. O pior já passou.
- Não consigo. Vou levar duas semanas para me acalmar.
- Bom, então roa as suas próprias unhas. Essas são as minhas.
- Ah, desculpe. Foi terrível. A incerteza, as noites sem sono. Eu estava de um jeito que até calmante me excitava, e quando conseguia dormir sonhava com escolhas múltiplas:
A) fracasso,
B) vexame,
C) desilusão
E acordava gritando: Nenhuma destas, nenhuma destas. Foi horrível.
- Só não compreendo porque você inventou de fazer vestibular a esta altura da vida...
- Mas quem é que fez vestibular? Foi meu filho! E o cretino está na praia, enquanto eu fico aqui, à beira do colapso.
Mãe de vestibulando. Os casos mais dolorosos. O inconsciente do filho às vezes nem tá: diz pra coroa que cravou coluna do meio em tudo e está matematicamente garantido. E ela ali, desdobrando fila por fila o gabarito. Não haveria um jeito mais humano de fazer a seleção para as universidades? Por exemplo, largar todos os candidatos no ponto mais remoto da floresta amazônica e os que voltassem à civilização estariam automaticamente classificados? Afinal, o Brasil precisa de desbravadores. E as mães dos reprovados, quando indagadas sobre a sorte do filho, poderiam enxugar uma lágrima e dizer com altivez:
- Ele foi um dos que não voltaram...
Em vez de:
- É um burro!
Os candidatos à Engenharia no Rio de Janeiro poderiam ser postos a trabalhar no Metrô dia e noite, quem pedisse água seria desclassificado. O Estado acabaria com poucos engenheiros novos -aliás, uma segurança para a população- mas as obras do Metrô progrediriam como nunca. Na direção errada, mas que diabo!
O certo é que do jeito que está não pode continuar. E ainda por cima, há os cursinhos pré-vestibulares. Em São Paulo os cursinhos estão usando helicópteros na guerra pela preferência dos vestibulandos que terão que repetir tudo no ano que vem. Daí para napalm, o bombardeio estratégico, o desembarque anfíbio e, pior, uma visita do Kissinger para negociar a paz, é um pulo. Em São Paulo há cursinhos tão grandes que o professor, para se comunicar com as filas de trás, tem que usar o correio. Se todos os alunos de cursinhos no centro de São Paulo saíssem para rua ao mesmo tempo, ia ter gente caindo no mar em Santos. O vestibular virou indústria. E os robôs que saem das usinas pré-vestibulares só tem dois movimentos: marcar cruzinha e rezar.
O filho da nossa nervosa amiga chegou em casa meio pessimista com uma das suas provas:
-Sei não. Acho que tubulei. O Inglês não estava mole.
-Mas meu filho, hoje não era inglês! Era Física e Matemática!
-Oba! Então acho que fui bem!


Como eu já disse... vestibular f@#& com a vida da gente.

2 pessoas retrucaram:

Valki disse...

Isso quando não tem um monte de gente enchendo o saco: e ai? Passou?

Aaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrgggggggghhhhhhhhhhhhhhhh

Julia Wartha disse...

HAHA! MUITO bom esse texto! :D

Tá bem legal o blog, parabéns! Tava lá nos meus favoritos há um tempão, mas não aparecia por essas bandas há meses, hehe.

;*

Postar um comentário

Comenta, é bem fácil!