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terça-feira, setembro 01, 2009

Como sempre foi

A segunda história curta que eu posto aqui. Espero que gostem.


Na confusão dos corredores eu notei seus cabelos dourados brilhando. Pela mesma janela que lançava os raios de sol uma brisa enfeitava seus movimentos dando mais vivacidade a tudo. E de tão colorido que foi, deveria ser um sonho.
Olhei para os lados, mas o mundo parecia ser apenas nós dois. E me perguntei por que depois de tanto tempo eu ainda me sentia assim. Como se uma âncora afundasse chão abaixo tentando me puxar junto. E a cada passo seu eu sentia o peso da âncora aumentar. Em pouco tempo eu poderia me afogar no mar de pedra ao meu redor.
E ao mesmo tempo um milhão de borboletas explodiram no meu estômago fazendo coceguinhas por dentro de mim. Isso fez eu esboçar um sorriso, aquele que você disse amar tanto. A única coisa minha de que eu tenho orgulho, meu sorriso. “Por que é sempre sincero”, você disse. E com um vislumbre eu te vi cada vez mais perto.
Esperei onde estava até que você chegasse na minha frente. Não porque não queria correr ao teu encontro, mas porque tua visão havia me petrificado como uma medusa faria. Contemplei teu rosto, teus lábios e tudo em ti que me convidava a passar uma breve eternidade ao teu lado.
“Me beija”. Eu pedi com uma das mãos na tua cintura. E olhei fundo nos olhos claros nos quais pude ver tua alma tão pura. Por isso eu te amava. Por que minha alma, suja pelos meus pecados, nunca te afastou. Mas naquele momento minha fé foi golpeada por tuas palavras. “Nós precisamos conversar”, você disse ao meu ouvido.
Eu não via mais ninguém à minha volta, mas essa bolha eu construí há muito tempo. Ainda assim muitos olhares pareciam capazes de nos observar, por isso você fez questão de ir a algum lugar mais vazio. Eu não seria capaz de te contrariar, nunca tive forças para isso.
Te acompanhei. Você pôs uma mão nas minhas costas, eu pus a minha nas suas. E era como sempre foi. Mas se você precisava conversar não poderia continuar assim por muito tempo. Uma onda de pavor começou a oscilar pelo meu corpo, eu tive tanto medo de te perder. Por que as pessoas sabem quando têm nas mãos o melhor que a vida pode lhes dar. E eu tinha.
Quando ninguém mais nos via você parou e novamente olhou para mim. Com suas mãos segurou meu rosto, que poderia muito bem estar se contorcendo numa careta de dor. “Eu não quero te beijar”. Você fez uma pausa, contemplando meus olhos. “Eu só quero te abraçar”, e seus braços me prenderam. Era como sempre foi.

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