quinta-feira, julho 01, 2010

Vidas secas

Andar pela rua sempre me surpreendeu. Eu nunca sei o que vou encontrar em qualquer caminho que eu ande, mas tenho certeza de que algo chamará minha atenção. Hoje não foi diferente.
Às 7:00 horas da manhã, mais ou menos, eu fazia o caminho rotineiro para o cursinho quando algo (ou melhor, alguém) fez com que eu parasse um pouco para refletir. A pessoa em questão era um indigente, deitado em algumas caixas de papelão abertas, sob a marquise de um loja. Ele possuia apenas alguns panos enrolados no tronco e outros sob sua cabeça enquanto dormia. No exato momento a primeira coisa que pensei foi: "Obrigado Senhor pela minha cama quentinha". O fato é que as 7:00 horas estava frio, a rua estava úmida e com certeza não era o melhor lugar para passar a noite.
Eu sei, essa cena poderia ser considerada usual. Alguém pode até dizer que em qualquer cidade existem pessoas assim. Que todo mundo já viu um indigente dormindo no chão. Pois eu não, não assim, do meu lado enquanto eu andava apressado pensando que hoje era o pior dia da semana porque eu tinha quatro aulas de matemática.
E a segunda coisa que me veio à mente foi: "Como são fúteis os meu problemas se comparados aos dele". Era ridículo até pensar que eu me estressava por fatos do meu dia-a-dia que seriam mais do que banais para outras pessoas. Foi então que eu percebi meu egocentrismo. Aquela massa obscura de egoísmo e preponderância que nos separa do resto do mundo.
Por que os meus problemas seriam de alguma forma piores do que os de outras pessoas? Ou mais importantes? E mais ainda, falando em ego, por que eu de alguma forma poderia me considerar superior a qualquer outra pessoa que passa por mim na rua? Pra mim a resposta sempre será negativa. Eu não tenho o direito de dizer que meus problemas são piores, ou que sou melhor do que alguém. Esses títulos até podem existir, mas não para mim. Nem para as tantas pessoas que colocam seu umbigo no centro do universo.
Alguns dizem que faz parte da natureza humana pensar apenas em si. Poderia ser algo darwiniano até. Um paradigma evolucionário, pois nos colocamos à frente dos outros pela nossa sobrevivência. Mas aqueles que acreditam nisso ainda não perceberam que nós, homens e mulheres, não vivemos mais nas cavernas. Já tentamos, fracassadamente, construir uma sociedade. E poucos percebem que ela é do jeito que é (marginalizada, machista, preconceituosa, xenofóbica, etc...) porque a maioria dos que vivem nela não conseguiram suprimir seu próprio ego. E esses vivem um vida seca, moribunda, que os torna até mesmo incapazes de desenvolver qualquer sentimento fraterno, tamanho o amor que tem por si mesmos.
É utópico pedir para que comecemos a olhar agora para outra pessoa. Ninguém jamais irá, totalmente, deixar esse egocentrismo de lado. Nós nascemos assim, fomos criados assim e muitos morrerão pensando assim. Engolidos pelo próprio ego, que já não cabia mais em seus corpos. O que eu peço encarecidamente é que nós tentemos viver um dia sem pensar apenas em nossas vidas medíocres. Um dia para perceber que não vivemos sozinhos, isolados. Que existem outras pessoas ao nosso redor com um papel tão importante quanto o nosso a ser desempenhado.
E a última coisa que eu pensei enquanto subia as escadas do cursinho foi: "Faça o bem, sem olhar a quem".

1 pessoas retrucaram:

Valki disse...

Nossos problemas são mais importantes por um simples motivo: são nossos. Na maioria das vezes, só nós podemos resolvê-los. Algumas vezes, aquela pessoa no chão é mais feliz que a gente. Outro dia observei um mendigo com seu cachorro. O carinho que aquele cachorro recebia era imenso. A alegria estampada na cara do dono também. Um misto de amor e orgulho pelo animal. Naquele momento, aqueles dois, por menos comida e conforto que tivessem, estavam felizes. Mais felizes que eu.

O ter nem sempre nos deixa completos. As aparências enganam. E blábláblá, um monte de frase clichê.

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